terça-feira, abril 04, 2006

 
Einstein, Freud, Maomé e as caricaturas
Paula Isabel Santos

E = M*C2 - com esta pequena mas estrondosa fórmula, Einstein, demonstrava que o tempo e a massa são relativos. Talvez o autor da mais famosa equação de todos os tempos lançasse alguma luz sobre esta equação das caricaturas, que de famosa ainda não tem muito tempo, mas cuja solução permanece uma incógnita.
O ano de 2006 não é o mesmo ano em todas as partes do globo. Para os ocidentais volveram-se quase 2006 anos depois do nascimento de Cristo. Para os muçulmanos passaram-se apenas 14 séculos após o nascimento de Muhammad, designado em Portugal por Maomé. O último dos profetas nasceu em Meca no ano 570. Não sendo considerado um ser divino, embora tivesse levado uma vida bem terrena - nove esposas, ou 12 se incluirmos as concubinas - é visto como um dos mais perfeitos entre os seres humanos.
Com estas simples contas facilmente se verifica que estamos em termos de história (pós nascimento do profeta) a seis séculos de distância.
E nestas coisas da religião e dos consequentes fundamentalismos que arrasta, façamos um exercício de memória:
Em 1236 (d.c) foi instaurado pelo papa Gregório IX o tribunal do Santo Ofício, que tinha como função perseguir os hereges – os eleitos eram maioritariamente judeus - ironicamente os que partilhavam as doutrinas de Eisntein e Freud.
A Santa Inquisição tivera o seu início no ano de 1184, com o papa Lúcio III. Em 1320, a Igreja declarou oficialmente que a bruxaria e a antiga religião dos pagãos constituíam o grupo de hereges. A igreja católica arrecadava poderes para efectivamente matar quem quisesse, pois para ser arguido, bastava uma denúncia ou uma acusação ao Santo Ofício. O uso da tortura para se obter uma confissão, foi permitido pelo papa Inocêncio IV, em 1252, era aplicada sempre que o tribunal o entendesse. Um testemunho era suficiente para justificar o envio para a câmara de morte.
Em pleno Em 1486 foi publicado um livro chamado «Malleus Maleficarum» («Martelo das Bruxas») escrito por dois monges dominicanos. Um manual que, além de ajudar a identificar as bruxas, continha instruções detalhadas de como as torturar. Afirmava ainda que as mulheres são naturalmente propensas à feitiçaria.
Em Portugal a Santa Inquisição só foi instaurada no século XVI , mas rapidamente aprendeu a arte de torturar, humilhar e infligir dor. Verdadeiros tratados científicos de como fazer alguém sofrer até à ultima pinga de sangue.
Por todo o mundo, o número de mortes foi incomensurável: " Na Catedral de Saint-Nazaire, doze mil 'hereges' foram mortos ... Aqueles que tentaram fugir foram cortados e mortos. Milhares mais foram queimados na estaca. Em Toulouse, o bispo Foulque levou à morte dez mil pessoas acusadas de heresia. Em Beziers, a população inteira de mais de vinte mil pessoas foi chacinada. Em Citeau, quando questionado sobre como os soldados deveriam distinguir os católicos dos cátaros gnósticos, o abade respondeu com seu cinismo afamado: 'Matem todos; Deus saberá quais são os seus'." [Thompkins, pg 58]
Alguns ataques tornaram-se famosos pela sua grandiosa monstruosidade. No massacre de Merindol, quinhentas mulheres foram fechadas e queimadas num celeiro. Os julgamentos de 1335 em França levaram milhares de pessoas à fogueira: setecentos feiticeiros foram queimados em Treves, quinhentos em Bamberg.. A noite de 24 de agosto de 1572, conhecida como a noite de São Bartolomeu, é considerada «a mais horrível entre as acções inquisidoras de todos os séculos». Sob a égide do papa Gregório XIII foram mortas mais de 60 mil pessoas em apenas alguns dias.
Em 1692, em Salem (EUA), dezenas de mulheres foram enforcadas, ficando o caso conhecido como «As bruxas de Salem». Cuba e Brasil são apenas outros dois exemplos da carnificina que assolou o mundo.
A Inquisição permaneceu em vigor até meados do século XX, mesmo que teoricamente. O pesquisador Justine Glass afirma que cerca de nove milhões de pessoas foram mortas, entre os séculos que durou a perseguição. Resta-me dizer que nenhum dos acusados e torturados havia feito nenhuma caricatura de Jesus Cristo, apenas havia cometido o pecado de ter nascido.
Num passado bem mais recente, a meio do séc. XX, há pouco mais de 60 anos, o mundo assistiu de forma quase autista à morte de seis milhões de judeus, de entre os quais um milhão de crianças. Perante esta reflexão, imprudente, porque dolorosa, não me parecem os exageros dos muçulmanos tão exagerados assim. Só daqui a cinco séculos atingirão o estádio em que os ocidentais se encontram em relação ao passado religioso.
É certo que na cultura muçulmana se desculpabiliza a tortura, a humilhação e a mutilação ( sobretudo de mulheres). Talvez daqui a cinco séculos se possam fazer caricaturas de Maomé, como agora se fazem de Jesus. Talvez daqui a cinco séculos as mulheres possam ser verdadeiramente livres - que ainda não o são na cultura ocidental. Vamos ser sinceros: uma em cada 5 mulheres sofre de maus tratos e de violência doméstica. Sobre a percentagem de mulheres na política e em cargos de poder...bom, quem tem telhados de vidro devia pensar duas vezes antes de satirizar quem afinal da Europa não colhe só bons exemplos.
Freud, ele próprio judeu perseguido pelos nazis, explicaria o ruído - o empolar da reacção quase alérgica e visceral que provocaram as caricaturas - como transferência e sublimação, uma forma politicamente correcta de os muçulmanos lançarem para a aldeia global, toda a ira acumulada pelos apenas 14 séculos de história. Implícito estará que a atitude dos muçulmanos não é a mais correcta.
Contudo, e por isso mesmo, diríamos: Freud, volta.... estás perdoado, de facto esta religião - que mata, assassina e engaiola as pessoas - é a forma enganosa que encontramos de despejar o ódio para cima dos outros.
Eisntein... volta....estás perdoado pela tua famosa frase: «Só conheço duas coisas infinitas, a estupidez humana e o universo. E não tenho a certeza quanto ao universo». Afinal, nunca fez mais sentido.
02-03-2006 17:25:24

Comments: Enviar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?