sábado, abril 22, 2006

 
Invejo França
José Luís Montero


Viver aqui ou além depende de muita coisa. Sentir inveja pelos que vivem além depende, muitas vezes, da mal chamada qualidade de vida. Viver onde se gosta depende, normalmente, do arrojo pessoal. Que é qualidade de vida? Depende... Dizem alguns que depende da alimentação, da casa, da paz e uma lista enorme de coisas que se podem ter nas vilas, nas cidade pequenas, nas aldeias, no entanto, eu prefiro a qualidade de vida que se encontra nos lugares onde a confusão é rainha e senhora. Nos lugares onde a confusão assusta, também se come bem e se bebe melhor; também há sossego e há possibilidades de ter à mão essa lista enorme que configura a mal chamada qualidade de vida. Paris e toda a França, estes dias, é invejável. Saiu à rua; clamou e o Governo francês dobrou. A qualidade de vida que nos dá a confusão fez tremer França e fez dobrar o governo. Como é normal, prefiro esta qualidade de vida e não a “bucólica”.
Entendo por qualidade de vida que um governo não possa fazer uma Lei laboral que brinca com os indivíduos. Parece-me mais importante que passear diariamente à beira-rio. Além de impedir a acção de um governo, este tipo de confusão provoca conversa sobre ideias; ilumina os artistas e faz tomar partido, partido até sujar-se como dizia o poeta e cantava Paco Ibañez. França, periodicamente, acorda o mundo mas, o mundo parece que não abandona a sonolência. Por toda Europa corre a ideia que é necessário estabelecer o futuro, restringindo os direitos dos assalariados. Parece que é voz de cátedra, no entanto, penso que é voz dos não – sindicatos existentes que só falam à mesa e só falam de subvenções estatais. Em Espanha, se revelam o dinheiro que o Estado abona, principalmente, aos dois sindicatos maioritários - CCOO e UGT – explicar-se-iam muitas coisas. No entanto, este comportamento subvencionado e claudicante é conhecido pela expressão: “ responsabilidade sindical.”
Paris é Paris como diria o nostálgico mas, é, fundamentalmente, um celeiro universal de posições sociais e ideias que não dormem na cabeça e no coração de quem as professa. Se fazemos números e passeamos esses números pelos sindicatos franceses, podemos observar que a taxa de filiação não é alta; neste momento, não posso dizer se é mais alta ou mais baixa que em Portugal ou em Espanha. Então, onde radica a diferença? É simples: no indivíduo. A sociedade francesa tem assumido no seu fígado um principio libertário importante: os direitos começam da defender-se desde o EU. Só assim se explica que quando alguém pretende tourear a sociedade, acaba toureado e bem toureado. França tem qualidade de vida; tem confusão.
jluismontero@hotmail.com
12-04-2006 12:38:09

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