sexta-feira, junho 30, 2006

 

Estudo:Atear fogo é comportamento predominantemente masculino

Causar incêndios florestais é «um comportamento predominantemente masculino» e tem várias motivações, como emocionais, vingança ou benefício próprio, explicou hoje uma docente do Instituto Superior de Polícia Judiciária e Ciências Criminais.
Ao intervir, em Lisboa, numa acção de formação para magistrados sobre «Incêndios florestais: prevenir, investigar e julgar», a docente, Cristina Soeiro, apresentou uma «caracterização sócio-psicológica do incendiário florestal português», com base num estudo realizado entre 2001 e 2005 por uma equipa de que fez parte.
Licenciada em Psicologia e doutorada em Sociologia, Cristina Soeiro referiu que, no âmbito do estudo, foram entrevistados nas prisões portuguesas 74 incendiários, concluindo-se que 93,3% deles são do sexo masculino e 6,3% do feminino.
Além disso, 40,6% são homens ainda jovens, com idades entre 20 e 35 anos, possuem profissões precárias ou são desempregados, têm poucas habilitações e são solteiros.
Cristina Soeiro referiu, com base no estudo, que «há vários tipos de incendiários», mas geralmente têm um «perfil patológico», associado a alcoolismo, debilidade mental, estados psicóticos e piromania.
O «perfil patológico» é confirmado, nomeadamente, pelo facto de os incendiários tenderem «a cometer o crime sempre da mesma forma» e revelarem «comportamento de incêndio repetido».
O incêndio causado pode resultar de um acto de prazer em ver arder e destruir, vingança, chamar a atenção, limitações no relacionamento interpessoal e vandalismo.
Um incendiário entrevistado no âmbito do estudo justificou o crime afirmando que «o pai não lhe quis dar um computador e ele lançou fogo a uma propriedade paterna», referiu Cristina Soeiro.
«Um primo meu está em França a ganhar muito dinheiro, portanto lancei-lhe fogo» a uma propriedade, alegou outro incendiário.
O incêndio causado pode também ter como motivação benefício próprio, como os casos de pastores que querem passar com os rebanhos numa determina zona e lançam fogo a arbustos e a erva para abrir caminho.
Cristina Soeiro referiu, também, que as conclusões a que chegou o estudo português são mais ou menos coincidentes com investigações internacionais neste domínio.
Em 2005, a Polícia Judiciária abriu cerca de 1.700 inquéritos por suspeita de fogo posto, num universo de 8.086 ocorrências, dos quais 450 foram concluídos com proposta de acusação.
Em 2005, os incêndios florestais devastaram 325.226 hectares em Portugal, segundo um relatório da Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF), que adianta que o fogo posto é a causa mais evidente dos incêndios.
Em 2005, apenas 2,2 por cento dos incêndios florestais ficaram a dever-se a causas naturais, enquanto o uso negligente do fogo representou 26,8 por cento, causas acidentais 8,2 por cento, intencionais 35,4 por cento e indeterminadas 27,4 por cento.
Entre 01 de Janeiro e 15 de Junho deste ano, registaram-se 6.674 ocorrências de fogo (1.057 incêndios florestais e 5.617 fogachos), as quais foram responsáveis por 8.918 hectares de área ardida.
A acção de formação sobre incêndios florestais - destinada a magistrados, mas também aberta a quadros da Polícia Judiciária, Guarda Nacional Republicana, Direcção-Geral dos Recursos Florestais e jornalistas - foi organizada pelo Centro de Estudos Judiciários, tendo decorrido no Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna.
Diário Digital / Lusa
30-06-2006 18:47:00


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