sexta-feira, julho 07, 2006

 
Reclusos vão representar o «Don Giovanni», de Mozart

A ala prisional da cadeia de Leiria, um sombrio corredor ladeado de celas, vai transformar-se num colorido palco de ópera sexta-feira, quando dezenas de reclusos, acompanhados por uma orquestra de câmara, representarem o «Don Giovanni», de Mozart.
O espectáculo, com o barítono Luis Rodrigues no principal papel, culmina um inédito projecto de «musicoterapia» iniciado há um ano naquele estabelecimento prisional, sob a direcção do maestro Paulo Lameiro.
«Transformar o espaço também ajuda a transformar as pessoas e estas pessoas, todos muito diferentes umas das outras, e para quem a ópera representa uma experiência verdadeiramente radical, também podem mudar», diz Paulo Lameiro.
Aquela famosa ópera de Mozart, estreada em 1787, «trata da culpa e da moral e os seus personagens envolvem-se nessa reflexão», explicou Paulo Lameiro.
Os reclusos «também gostam, e precisam, de falar da culpa», acrescentou.
Eles reescreveram, aliás, alguns recitativos do Don Giovanni, adaptando o libreto de Lorenzo da Ponte à sua linguagem e experiência pessoais, e que, ao contrário das árias, serão cantados em português.
Paulo Lameiro, 41 anos, é também director da Escola de Artes da Socieda de Artística Musical dos Pousos, uma das mais antigas e dinâmicas instituições culturais de Leiria, fundada no século XIX.
Segundo realçou à Agência Lusa, este projecto confirma que «a ópera é uma linguagem acessível e tem uma poderosíssima capacidade para trabalhar os afectos e envolver emocionalmente as pessoas».
Referindo-se à população prisional da cadeia de Leiria - cerca de 170 reclusos, sobretudo preventivos - Paulo Lameira disse que «eles aprenderam a respeitar uma partitura clássica» e «alguns até já manifestaram o desejo de continuarem este projecto quando saírem».
«A música toca mais fundo na alma humana», concluiu, citando Platão.
Diário Digital / Lusa
06-07-2006 18:58:00

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