terça-feira, agosto 29, 2006

 
Paquistão: Violência prossegue 4 dias após morte líder tribal

Distúrbios, tiroteios, um ataque à granada e outro à bomba marcaram esta terça-feira o quarto dia consecutivo de violência no sul do Paquistão devido à morte, às mãos do exército, de um destacado líder tribal.

Mais de 10.000 pessoas acompanharam hoje em Quetta, capital do Baluchistão, um serviço religioso em memória de Nawab Akbar Bugti, 79 anos, morto sábado numa operação do exército paquistanês na zona montanhosa de Kohlu, cerca de 220 quilómetros a sudeste de Quetta, mas cujo corpo ainda não foi entregue à família.
Bugti, que chegou a ser governador da província, liderou uma violenta campanha contra o governo central pela autonomia da província e o direito da sua população aos rendimentos da exploração dos recursos naturais do Baluchistão, nomeadamente o gás e o petróleo.
Durante a cerimónia religiosa, que segundo jornalistas juntou mais de 10.000 pessoas no estádio de Quetta, manifestantes lançaram duas granadas contra um grupo de polícias destacado para o local.
Segundo o chefe da polícia da cidade, Chaundhry Mohammed Yaqoob, este ataque não fez vítimas.
Minutos depois da explosão das granadas, registou-se um intenso tiroteio que provocou ferimentos em dois dos mais de cem polícias enviados para o estádio para conter a violência.
Seguiram-se ataques a lojas nas imediações, 20 das quais foram pilhadas e incendiadas por manifestantes, a par de duas agências bancárias e três restaurantes, a que a polícia respondeu com o lançamento de granadas de gás lacrimogéneo.
Noutras cidades da província - Khuzdar, Turbat e Gawadar -, milhares de manifestantes protagonizaram hoje violentos distúrbios, incendiando dezenas de lojas e de automóveis, também segundo a polícia.
No distrito de Hub, um ataque à bomba contra um restaurante à beira da estrada matou quatro civis e feriu outros dez, segundo a polícia, que não conseguiu determinar o motivo deste ataque e o atribuiu à vaga de violência desencadeada na região com a morte de Bugti.
Só nas últimas 24 horas, a polícia deteve 30 pessoas em Quetta, elevando para mais de 500 o total de detidos desde o início da violência. Outros 35 manifestantes foram detidos em Karachi, depois de tiroteios que provocaram ferimentos em dois rapazes.
A morte do líder tribal deu também origem a mais um incidente diplomático entre a Índia e o Paquistão.
Depois de Nova Deli ter emitido segunda-feira um comunicado em que classificava a morte de Bugti como «infeliz» e sublinhava «a necessidade de um diálogo pacífico para responder às aspirações do povo do Baluchistão», Islamabad respondeu hoje aconselhando a Índia a «pôr ordem na sua casa» antes de interferir nos assuntos internos de um país vizinho.
«A preocupação da Índia com as populações dos países vizinhos é desadequada, tendo em vista que a Índia tem problemas com grupos rebeldes em Arunachal Pradesh, Assam, Manipur, Meghalaya, Mizoram, Nagaland, Tripura, Bundel Khand, Gorkhaland, Bodoland e Khaplang, problemas que reprime pela força», disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros paquistanês, Tasnim Aslam.
A província do Baluchistão, que faz fronteira com o Afeganistão e com o Irão, é dominada há décadas por líderes tribais e pelas suas milícias fortemente armadas. Nos últimos meses, o exército paquistanês intensificou as suas operações na região, com o objectivo de ali estabelecer posições e recuperar o controlo da província para o governo central.
A operação em Kohlu, que prossegue, levou entretanto à rendição de cerca de 1.500 milicianos da tribo Marri - uma das três grandes tribos da província - e à apreensão de armamento diverso, incluindo lança-granadas, metralhadoras e espingardas de assalto, segundo a agência de notícias oficial paquistanesa, APP.
Diário Digital / Lusa
29-08-2006 17:25:00

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