domingo, setembro 17, 2006

 
ESPAÇO CULTURA - Ociosidade dominical: 1Livro, 1Filme, 1Disco


Livro: "O idiota" - Fiodor Dostoievski (1869)
Publicado em 1869, «O Idiota» é, dos cinco grandes romances de Dostoiévski, o mais perfeito a nível estilístico e de construção dos personagens, mas também o mais incompreendido na sua época. «O Idiota» retrata o conflito sentimental sem resposta entre o bem, o belo, o mal, o ódio, a aversão e o rancor, que, com o seu génio, Dostoiévski trata de uma forma única e intemporal.

Após uma longa ausência de São Petersburgo, o príncipe Míchkin retorna ao seu país.Oficialmente sofre de um estado de depressão nervosa, o que serve para evitar equívocos quando à real condição do príncipe: este padece de uma forma totalmente idiota de ser, que se torna visível na mais pequena demonstração da vontade que carece ter. Consequentemente à falta de decisão e vontade própria, Míchkin tem uma confiança ilimitada naqueles que o rodeiam. No decorrer da sua viagem conhece Rogójin, um exuberante e abastado jovem de quem se faz amigo. Rogójin entretém o príncipe com o desenvolver da sua ardente paixão por uma certa Nastássia Filíppovna, mulher bela e generosa, mas de reputação duvidosa. Ao chegar a casa do general Epantchin, Míchkin ouve falar novamente de Nastássia e apercebe-se que Gánia, o jovem secretário do general, pretende desposá-la pelo seu dote. O príncipe sente o desejo irresistível de a encontrar, o que acontece na casa de Gánia. Segundo o seu entender, Nastássia não merece casar com um homem que não a ame, que queira apenas o seu dinheiro, como é a intenção de Gánia. Entretanto um embriagado Rogójin oferece a Filíppovna uma enorme quantia de dinheiro para que ela fique com ele. Míchkin percebe o desespero em que a jovem mulher se encontra e pede-a em casamento para a salvar da perdição total, mas Nastássia acaba por se render e fugir com o rico mercador. Ao fazer de Míchkin uma espécie de encarnação ideal da bondade e da humildade, um héroi entre as figuras de D. Quixote e Jesus Cristo, Dostoiévski demonstra o que pode suceder a um homem genuinamente bom quando posto em confronto directo com a pérfida realidade envolvente.


Filme: "Embriagado de amor" - Paul Thomas Anderson - 2002
Provavelmente, a lógica (?) mandaria que, depois de «Magnolia», Paul Thomas Anderson fizesse um filme ainda mais grandioso e com um estrutura (melo)dramática ainda mais ambiciosa. Mas estas coisas não acontecem por um mero jogo de probabilidades.

Daí «Punch-Drunk Love». Que é como quem diz: uma espécie de comédia romântica, nostálgica de outros classicismos — a sombra do mestre Jerry Lewis passa na composição de Adam Sandler, um homem vulgar a quem acontecem coisas um pouco menos vulgares... —, olhando com desencanto para um sistema de relações vulneráveis e «impossíveis», desencanto esse que nos toca pela sua subtil actualidade sociológica, afectiva e simbólica. O filme tem a sedução de um diamante em bruto. É um retorno a um cinema minimalista e poético que, em boa verdade, se fundamenta numa crença fortíssima no cinema como «coisa» maior que a vida.

Disco: "California" - Mr.Bungle (1999)
Cruzar Frank Zappa, John Zorn e bandas sonoras de desenhos animados e muito pouco para poder explicar o que é Mr. Bungle, projecto encabeçado por Mike Patton.

Mr Bungle leva a esquizofrenia sonora destes três universos às últimas consequências: de Zappa tiram a viagem por todos os segmentos da música pop, chegando a tocar quatro ou mais gêneros numa mesma musica; de Zorn os ataques iconoclastas, atravessando extremos de uma ponta à outra sem hesitações, só pelo choque; dos desenhos animados vieram os aspectos visuais da música, em que cada nota serve para encerrar um conceito, ilustrar um movimento. Casando os três, o grupo californiano chega a um consenso: é possível misturar todo tipo de música, em qualquer velocidade ou intenção - sem a mínima necessidade de se soar pop. Isto tudo ate ao album California, em que não perdendo estas caracteristicas subiram mais um patamar. Agora tambem até ja soa a pop, sendo o disco de mais fácil digestão da história do grupo. Mike Patton, Trey Spruance, Bär McKimmon, Trevor Dunn e Danny Heifetz fazem a sua incursão no formato pop como um dos ingredientes da mistura.

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