quarta-feira, setembro 06, 2006

 
Irão: Jornal de Teerão critica política económica do governo

A política económica centralista de Mahmud Ahmadinejad foi esta quarta-feira criticada por um jornal iraniano que defendeu a «genuína privatização» e «o investimento estrangeiro» como a única forma de resolver os problemas do Irão.

No editorial do Iran News, chega-se mesmo a utilizar a palavra «vergonha» para definir o facto de o Irão importar 40% do combustível que consome, apesar de ter uma das maiores reservas de petróleo do mundo, embora o editorialista procure suavizar o texto colocando essa expressão na boca de analistas não especificados.
«Há analistas que opinam que é uma vergonha para uma nação com uma das maiores reservas de petróleo do mundo não ter capacidade para refinar o suficiente para suprir a sua própria procura», lê-se no texto.
Num país onde os responsáveis pelos jornais da corrente mais reformista podem ser presos e as suas publicações encerradas por uma crítica ou uma notícia que desagrade ao Governo, o editorial do Iran News arrisca-se a defender uma reforma liberal da República Islâmica e uma abertura ao investimento estrangeiro, precisamente aquilo que o «ayatollah» Khomeiny mais criticava e que o Presidente Ahmadinejad considera ideias desviantes no interior da Revolução.
«Sem uma genuína privatização e investimento estrangeiro, assim como sem a resolução amigável dos enormes problemas com a comunidade internacional, esperar algumas melhorias do statu quo ante é muito improvável», diz o editorialista.
O artigo do Iran News surge precisamente um dia depois de dois conselheiros do Chefe de Estado iraniano, Ali Akbar Javnfekr e Mehdi Kalhor, terem pedido uma maior cooperação dos órgãos de informação com as autoridades do Estado.
«Todos nós devemos ter muito cuidado para não pôr em causa os serviços do Governo. Já antes afirmei que o Governo e os media são membros de uma família e devem servir uma causa maior que é a nação iraniana», disse Javenfekr citado pela agência de notícias ISNA.
«Espero que todos aqueles que têm acesso a pódios públicos não se desviem da lógica, da racionalidade, da moderação e do respeito pelos direitos de outros e das suas ideias», acrescentou o conselheiro para os assuntos da imprensa.
Mehdi Kalhor, conselheiro de informação e de assuntos dos «media», referiu, por seu lado, que o Presidente Ahmadinejad é uma pessoa aberta em relação à liberdade de expressão, mas há «certos órgãos de informação» que continuam a «ser explorados como ferramentas políticas».
Considerando que o Governo tem feito um bom trabalho desde que chegou ao poder o ano passado, Kalhor adiantou à agência oficial IRNA que «muitos jornais e agências de notícias se tornaram mais moderados nos últimos dois meses».
A posição do Iran News está longe de poder ser considerada moderada - e é capaz de vir a trazer problemas ao seu director, Mohammad Soltanifar - vem na sequência da autorização que o Executivo iraniano pediu esta semana ao Parlamento iraniano para canalizar uma verba de 3,5 mil milhões de dólares para importar combustível necessário para responder à procura interna do país até ao final do ano fiscal que termina em Março de 2007.
«Desde que entrou em funções, o Governo do Presidente Mahmud Ahmadinejad prometeu descontinuar as importações de combustível e insistiu que o Irão deveria suprir (a procura) com a sua própria produção de gasolina», escreve o Iran News.
«No entanto, o plano foi alterado quando o Governo percebeu que a sua implementação poderia ter consequências sócio-económicas dramáticas para o país», explica.
Para este jornal iraniano, um dos maiores problemas económicos do Irão e aquele que motiva o seu atraso é motivado pela ineficiência da sua economia centralizada.
«As economias centralizadas como a nossa não são exactamente propensas ao crescimento sustentado. Se o Estado insiste em controlar 80% da economia nacional, também tem de estar preparado para manter a pouco saudável e contra-produtiva prática de pagar milhares de milhões de dólares em subsídios todos os anos», explica o diário.
No entanto, segundo o editorial, o facto de o Governo iraniano ter tentado alterar a situação sem reformas de fundo no sector económico revelou-se um fracasso, provocando o recuo nas suas intenções, tal como ficou demonstrado no pedido feito ao Parlamento na segunda-feira.

Diário Digital / Lusa
06-09-2006 19:15:00

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