quarta-feira, setembro 13, 2006

 
Neandertais sobreviveram muito mais tempo do que se julgava

Os homens de Neandertal sobreviveram milhares de anos mais do que os cientistas julgavam, com os últimos bandos a deixarem vestígios em Gibraltar há apenas 24.000 anos, segundo um estudo hoje divulgado pela revista Nature.

As provas desta sobrevivência foram obtidas numa nova campanha de escavações realizada entre 1999 e 2005 na gruta de Gorham. Apesar das suspeitas de um possível desaparecimento mais tardio, não foi encontrada nenhuma prova irrefutável para além de 35.000 anos antes da nossa era.
A datação das peças arqueológicas encontradas nas últimas escavações de 1999 e 2005, nomeadamente restos de carvão de madeira, com recurso a um espectrómetro de massa por acelerador, acaba de confirmar essas hipóteses: os homens pré-históricos estavam «certamente presentes» ainda há 24.000 anos - escrevem os autores do estudo, Clive Finlayson, do Museu de Gibraltar, e colegas.
O que é hoje um minúsculo território britânico sobranceiro ao estreito de Gibraltar, onde as águas do Atlântico e do Mediterrâneo se juntam, constituiu aparentemente um ambiente privilegiado onde eles puderam sobreviver muito depois do desaparecimento dos irmãos, perdidos na tundra que cobria grande parte da Europa na era glaciar.
Os últimos ocupantes da gruta de Gorham tiveram acesso a uma flora e fauna variadas, e viviam num meio em que alternavam planaltos arenosos, zonas arborizadas, pântanos e falésias. «Essa diversidade ecológica poderá ter-lhes facilitado a longa sobrevivência», segundo a equipa de Clive Finlayson.
O sítio a que foi dado o nome do oficial inglês (capitão Gorham) que o descobriu em 1907 forneceu os primeiros vestígios de Neandertais, nomeadamente utensílios de pedra, há mais de meio século. A gruta fica aliás perto de outro local, a carreira de Forbes, onde em 1848 foram encontrados os restos de uma mulher Neandertal.
Apesar dos homens de Neandertal terem sido descritos a partir de ossadas fósseis descobertas no vale de Neander (Alemanha) há 150 anos, em Agosto de 1856, dois outros crânios foram desenterrados, sem serem reconhecidos, antes desta data histórica. Mesmo o fóssil de Gibraltar foi precedido pelo de uma criança encontrado na Bélgica em 1830.
Segundo uma teoria proposta recentemente por investigadores espanhóis, foi ao atravessarem o estreito de Gibraltar em embarcações primitivas ou a nado que os homens de Neandertal arcaicos vindos de África terão chegado ao continente europeu.
Enquanto que outros cientistas dizem que terão chegado à Europa vindos do Médio Oriente, os antropólogos espanhóis chamam a atenção para a semelhança de vestígios que remontam ao período suposto desta migração encontrados nas duas margens do estreito: no enclave espanhol de Ceuta e no sul de Espanha.
Se for assim, fecha-se o círculo: os primeiros e os últimos Neandertais europeus terão vivido no extremo sul do velho continente, que dominaram como reis e senhores durante cerca de 250 milénios até darem lugar, no final de uma longa coabitação enigmática, a novos homens vindos de algures, os nossos antepassados.

Diário Digital / Lusa
13-09-2006 18:08:00

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