terça-feira, outubro 10, 2006

 
11-M: Garzón acusa peritos de falsificação para vincular ETA

O juiz espanhol Baltasar Garzón acusou três peritos policiais de terem falsificado um relatório para tentar vincular «sem qualquer sustentação real» a organização ETA aos atentados de 11 de Março (11-M) de 2004.

No auto hoje divulgado, o juiz dá por concluída a investigação sobre o relatório, que estabelecia a ligação com base no ácido bórico encontrado num apartamento usado pela ETA e na casa dos terroristas envolvidos nos atentados de 2004, em Madrid.
Garzón refere no documento que a detecção da substância «carece de relevância jurídico-penal», afirmando que o relatório, publicado no jornal El Mundo, foi retirado «do único original» preparado por um dos peritos, Manuel Escribano, ao qual «apenas ele tinha acesso».
Sugere assim que foi esse perito da Polícia Científica, um dos três acusados por falsificação, quem terá facultado o relatório ao jornal cuja cobertura foi aplaudida pelo Partido Popular e amplamente criticada pela maioria da imprensa espanhola.
No auto, Garzon refere que as conclusões do relatório são sustentadas em «simples elucubrações», carecendo da mínima base cientifica, e acrescenta que os especialistas omitiram «dados relevantes cuja presença suporia a inocuidade dessas observações», nomeadamente o facto do ácido bórico não ser uma substância explosiva.
O juiz refere que não há qualquer indicação de que o ácido bórico tenha servido para além de «utilização doméstica», nomeadamente matar baratas, afirmando que os peritos confirmaram, em testemunho, não haver a nível mundial qualquer registo do uso desta substância em explosivos.
«A não inclusão dessas informações, precisamente nas observações deste documento, não é uma omissão casual por parte de quem fez o relatório, mas é perfeitamente meditada», sustenta o juiz, acrescentando que dessa informação dependeria o estabelecimento do vínculo «entre a ETA e organizações terroristas islâmicas».
Assim, o juiz conclui que as observações foram «mutiladas» com o objectivo de «produzir, presumivelmente, um efeito alheio ao da própria finalidade do relatório pericial», acusando os peritos de procurarem «ressaltar a hipotética e artificial conexão» entre a ETA e os terroristas islâmicos.
Segundo refere, dois dos peritos sabiam, em 2000 - e assim o tinham notado num outro relatório - da inocuidade do ácido bórico.
O documento, referiu, nunca foi «oficializado», encontrando-se apenas numa disquete na pose de um dos peritos, Manuel Escribano, «o único que dispunha de uma chave de acesso».
Garzon refere que a 11 de Julho Escribano «fabricou um novo original do documento» passando-o depois para assinatura dos outros dois peritos, Isabel López e Pedro Manrique, que aceitaram assinar sem mudar a data inicial, de 21 de Março de 2005.
«Uma vez criada essa aparência documental, o documento foi posto em circulação através do seu envio ao diário El Mundo, entre 11 de Julho e 21 de Setembro», data em que o jornal o publicou em manchete que acusava o Ministério do Interior de «falsificar um documento para ocultar ao juiz ligações entre o 11 de Março e a ETA».
A publicação do artigo no El Mundo intensificou o debate e a polémica em torno da autoria dos atentados, com o Partido Popular (PP) a exigir a presença no parlamento do ministro do Interior, para clarificar as acusações publicadas na imprensa.
No parlamento, todos os grupos políticos se uniram contra o PP anunciando que bloqueariam qualquer tentativa do PP «contaminar» o plenário, introduzindo no debate as suas «suspeitas» sobre a investigação do 11 de Março.
Líderes do PP têm, repetidamente, questionado a acção das forças judiciais, do executivo e do aparelho da justiça em torno da investigação do caso, muitas vezes recorrendo a notícias publicadas na imprensa mais conservadora.
A questão da autoria dos atentados e nomeadamente o alegado envolvimento da ETA tem assumido particular relevo desde as explosões, com o governo do então Partido Popular a responsabilizar a organização basca, apesar das provas em contrário.
Tal actuação levou à realização de manifestações contra o PP em Madrid e, dois dias depois, à derrota inesperada dos Populares nas eleições nacionais, de que saiu vencedor o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), liderado por José Luis Rodríguez Zapatero.
O El Mundo e a COPE, a rádio da conferência episcopal espanhola, têm dado amplo espaço às suspeitas sobre o alegado envolvimento da ETA, questionando regularmente a investigação judicial e das forças de segurança do Estado.
Face a esta situação, o Colégio de Jornalistas da Catalunha (CJC) afirmou em comunicado que os dois órgãos de imprensa têm em curso «campanhas» sobre os atentados «que pretendem conseguir fins políticos e económicos e nada têm que ver com o jornalismo».

Diário Digital / Lusa
10-10-2006 18:49:27

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