quarta-feira, outubro 04, 2006

 
ECOS DA HISTÓRIA - A queda do Império Almóada.

A sul da serra algarvia, estendia-se um mundo que fascinava os conquistadores cristãos, tanto portugueses como do norte da Europa: uma densa rede de castelos, e cidades ricas e populosas.

Em 1189, num golpe arriscado, D. Sancho I, em conjunto com uma esquadra de Cruzados, lança-se sobre a cidade mais emblemática da região: Silves. Mas após um breve domínio português sobre o Barlavento, o poderoso Império Almóada iniciou uma reacção fulminante.
Meio século depois, Paio Peres Correia, liderando os Cavaleiros da Ordem de Santiago desencadeou uma série de campanhas que derrubaram o reino muçulmano do Algarve. Por fim, em 1249, D. Afonso III após a queda de Faro, Loulé e Aljezur, os últimos bastiões dos mouros, adopta o título de «Rei de Portugal e do Algarve».

O império almóada viria a desagregar-se na Hispânia em 1234, dissolvendo-se em vários pequenos emiratos, as taifas. O Sul de Portugal ainda em mãos muçulmanas ficou anexado à taifa de Niebla, na moderna Espanha; o seu emir, Musa ibn Mohammad ibn Nassir ibn Mahfuz, proclamou-se pouco tempo mais tarde "Rei do Algarve" (amir al-Gharb), posto que o seu Estado compreendia, de facto, a região mais ocidental do Andaluz muçulmano.
Ao mesmo tempo, as conquistas portuguesas e castelhanas para o Sul prosseguiam. Em reinado de D. Sancho II conquistaram-se as derradeiras praças alentejanas e ainda a maior parte do Algarve moderno, na margem direita do rio Guadiana; à data da sua deposição e posterior abdicação, restavam do Algarve muçulmano apenas pequenos enclaves em Aljezur, Faro, Loulé e Albufeira, os quais, devido à descontinuidade territorial e à distância que os separava de Niebla, se tornaram independentes do seu domínio.
Assim sendo, de facto, Sancho II de Portugal afigurar-se-ia como o segundo rei português a poder usar o título de rei do Algarve, na esteira de seu avô — o que provavelmente só não fez devido às suas outras preocupações internas, designadamente a guerra civil que o opôs ao seu irmão, o conde de Bolonha, o infante Afonso.
Com efeito, foi este que, subido ao trono em 1248, se encarregou da conquista dos derradeiros enclaves mouriscos no Algarve, assumindo em 1249 o título de "Rei de Portugal e do Algarve", que não mais deixaria de ser utilizado pelos seus sucessores até ao fim da monarquia em Portugal.
O rei de Niebla e emir do Algarve, para obstar às conquistas perpetradas pelos Portugueses nos seus territórios, fez-se vassalo de Afonso X de Castela (o qual passou por isso também a usar o título de Rei do Algarve entre as suas múltiplas conquistas), cedendo-lhe o domínio do Algarve português. Assim, muito provavelmente, a intitulação de Afonso III de Portugal serviria como reacção a esta tomada de posição pelo vizinho castelhano, destinando-se a fortalecer os direitos do monarca português sobre a região em causa (pois que, como já foi dito, à intitulação e ao estatuto de reino não correspondia nem foros nem privilégios nem autonomia própria).
A questão acabou por ser dirimida entre os soberanos de Castela e de Portugal, pelo tratado de Badajoz de 1267; o rei Afonso X desistia das suas pretensões sobre o antigo Gharb al-Ândalus, fazendo do seu neto D. Dinis o herdeiro do trono do Algarve, o que ditava a sua incorporação a prazo na coroa portuguesa. Reservava, porém, a utilização do título por si e pelos seus descendentes, dado ter adquirido em 1262 os restos do reino de Niebla/Algarve, situados já além do Odiana – os demais reis de Castela, e depois da Espanha, até à subida ao trono da rainha Isabel II (1833), continuaram a usá-lo entre os seus plúrices títulos.

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