segunda-feira, fevereiro 05, 2007

 
Influente revista neoconservadora defende privatização da CIA

A revista com mais influência na actual equipa dirigente da Casa Branca, a neoconservadora The Weekly Standard, defende, na sua última edição, a privatização de serviços de apoio à espionagem da CIA.

«Privatizem a CIA - A nossa comunidade de informações precisa de mais concorrência» é o título do artigo de Michael Rubin que será publicado na edição de segunda-feira, mas cujo texto já está disponível na Internet.
Michael Rubin é apresentado na revista como académico residente no American Enterprise Institute e consultor para os assuntos do Irão e Iraque no gabinete do secretário norte-americano da Defesa entre 2002 e 2004.
The Weekly Standard, assumidamente neoconservadora, foi lançada em Setembro de 1995, integrando o grupo News Corporation, do magnata dos média Rupert Murdoch.
Apesar de perder cerca de um milhão de dólares por ano, Rupert Murdoch já anunciou que não é intenção da News Corporation vender a revista.
A influência de The Weekly Standard na Casa Branca é tal que só o gabinete do vice-presidente Dick Cheney adquire semanalmente 30 exemplares, revelou a revista Vanity Fair.
The Weekly Standard é dirigida por William Kristol, presidente do Projecto para o Novo Século Americano. Apesar de apoiante confesso da estratégia iraquiana de George W.Bush, Kristol apelou, com êxito, à demissão do secretário da Defesa, Donald Rumsfeld.
A tese central do artigo de Rubin é a de que, apesar dos meios consideráveis de que a CIA dispõe, a agência produz demasiadas análises medíocres e erradas, por se encontrar burocratizada.
Há relatórios que circulam nas mais altas esferas que «raramente são mais analíticos ou pormenorizados do que notícias publicadas na imprensa», acusa Rubin.
O facto de o artigo ter aparecido na Internet já suscitou resposta. A Red e Voltaire para a liberdade de expressão, um site francês - Voltairenet.org - que congrega muitos órgãos de informação de esquerda em diversos continentes, encara o artigo de Michael Rubin como um recado táctico para a Casa Branca fazer a CIA escapar ao controlo parlamentar.
Segundo a Voltairenet, a direita encara com apreensão o facto de a presidência da comissão do Senado que controla os serviços de informações norte-america nos ter sido entregue a John D.(Jay) Rockefeller IV.
Jay Rockefeller, da Virgínia Ocidental, é o descendente mais à esquerda da linhagem Rockefeller, tendo-se batido pela melhoria das condições dos trabalhadores e pequenos agricultores, opondo-se à Organização Mundial do Comércio.
A proposta de privatização parcial da CIA - acusa a Voltairenet - significaria a possibilidade de a agência ter sectores operacionais que escapariam ao controlo parlamentar, como já acontece em parte com a Agência Nacional de Segurança.
O artigo de Michael Rubin refere que aposta da CIA em manter um «grupo fechado de análise» composto por «cientistas sociais segregados da política» não deu bom resultado: o colapso da União Soviética e os ataques de 11 de Setembro são dois exemplos referidos por Rubin para demonstrar a ineficiência da agência de informações.
Rubin acusa igualmente a CIA de ter deixado o líder da oposição iraquiana a Saddam Hussein, Mohamed Chalabi, ficar com as culpas pelas falsas informações sobre as armas de destruição maciça.
A verdade é que a CIA, após uma operação de espionagem que custou cerca de 30 mil milhões de dólares (cerca de 23 mil milhões de euros) concluiu que o Iraque estava inundado de armas nucleares e químicas, garante Rubin.
É no sector da espionagem e dos peritos linguísticos que o articulista sente o maior défice da CIA. Nem a agência é atractiva para académicos linguísticos, nem estes são hábeis em campo, afirma Rubin.
A CIA, salienta, tem obtido melhores resultados no recrutamento de mórmones que regressam de missões religiosas no estrangeiro do que com teóricos inexperientes.
«A CIA tem muitos analistas bons», escreve Rubin, mas o predomínio dos critérios organizacionais e hierárquicos «estrangula-os».
«Os interesses burocráticos prevalecem», afirma o articulista, explicando que, como os relatórios passam por diversos níveis da hierarquia, acabam feitos numa linguagem em que cada afirmação tem sempre a sua contrária num outro ponto do texto.
Por outro lado, Rubin observa que «a era de uma Langley [sede da CIA] apolítica terminou», referindo que elementos da agência produziram fugas de informação para atingirem a Casa Branca em vésperas da eleição presidencial de 2004.
«Então, qual é a solução?» pergunta Rubin, para logo dar a resposta: «A inclinação de Washington é sempre a de expandir as contratações. Mas isso irá constranger mais do que melhorar as análises. (...) Em vez de expandir, o Governo de veria privatizar muito do seu sector de análise».
A convicção de Rubin é a de que «a privatização funciona» e dá como exemplo o facto de empresas como a SAIC (Science Applications International Corporation, com contrato com a NSA, Agência Nacional de Segurança) e a consultora multinacional Booze Allen Hamilton já operarem com unidades de informações na cintura de Langley.
Os analistas dessas empresas, diz Rubin, receberam autorização oficial para contactar com informações da mais alta segurança, tal como diversos académicos.
«A privatização iria melhorar a produtividade», defende Rubin. «A hierarquia da CIA pode demorar semanas para validar o relatório de um analista ou para o distribuir aos departamentos do Governo.
As empresas privadas reagem mais depressa. A concorrência poderia também acelerar a exploração de milhões de páginas de documentos capturados no Afeganistão e no Iraque». Michael Rubin conclui que o ramo analítico da CIA não deve desaparecer, mas encolher à medida que aumentar a privatização da tarefa.

Diário Digital / Lusa
04-02-2007 10:23:00

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