quinta-feira, abril 05, 2007

 
Joana d`Arc: Relíquias são falsificação feita de múmia

As presumíveis relíquias de Santa Joana D`Arc são afinal uma falsificação realizada a partir de uma múmia egípcia e não os restos mortais da heroína francesa queimada na fogueira em 1431, revela hoje a revista britânica Nature.

No ano passado, uma equipa de cientistas franceses dirigidos por Philippe Charlier obteve autorização da Igreja francesa para investigar os restos de ossos e roupa que supostamente pertenciam a Joana D`Arc, célebre por ter comandado os exércitos franceses contra os invasores ingleses na Guerra dos Cem Anos.
Após ter submetido as relíquias a rigorosos exames biológicos, radiológicos, toxicológicos e de Carbono 14, ao longo de seis meses, os cientistas forenses concluíram que estes pertencem a uma múmia egípcia originária de um período entre os séculos III e VI antes de Cristo.
Na investigação também foram utilizados os dotes olfactivos de dois perfumistas, Sylvaine Delacourte (da casa Guerlain) e Jean Michel Duriez (da casa Jean Patou), que detectaram nos restos mortais odores a gesso queimado e a baunilha, o que sugere que se tratou de uma decomposição natural e não de um processo de combustão.
«É possível encontrar odores a baunilha numa múmia, mas não nos restos de alguém que morreu na fogueira», considerou Charlier, cujas análises químicas e ao microscópio também confirmam que não se trata de ossos carbonizados.
Joana D`Arc morreu aos dezanove anos numa fogueira em Rouen (Norte de França) após ter sido condenada por feitiçaria no final de um processo legal manipulado pelos ingleses.
A lenda assegura que os restos da santa foram lançados ao rio Sena para que os seus partidários não pudessem prestar homenagem.
No entanto, outra versão indica que os restos da guerreira foram recuperados de entre as cinzas da fogueira e - juntamente com os seus pertences - guardados até hoje no Arcebispado de Tours.
Os alegados restos da heroína foram encontrados em 1867 numa jarra numa farmácia de Paris com a inscrição «Relíquias encontradas na fogueira de Joana D`Arc, donzela de Orleães».
O recipiente continha uma costela humana aparentemente carbonizada, restos do que parece ser madeira queimada, um pedaço de linho e o fémur de um gato, o que é consistente com a prática medieval de lançar gatos preto à fogueira das mulheres queimadas por bruxaria.
Charlier, cientista forense do Hospital Raymond Poincaré de Garches, mostrou-se «atónito» com os resultados das análises das relíquias e explicou que nunca lhe passou pela cabeça que pertencessem a uma múmia.
O investigador atribui a relação entre as supostas relíquias de Joana D`Arc e restos funerários da época dos faraós à prática medieval de utilizar restos de múmias egípcias nalguns remédios medicinais.
A descoberta dos restos mortais no século XIX também coincide com o período em que os historiadores franceses transformaram Joana D`Arc num mito nacional.
Queimada a 29 de Maio de 1431, beatificada em 1909 e canonizada em 1920, Joana D`Arc nasceu numa família de camponeses e chegou a comandar várias campanhas militares francesas na Guerra dos Cem Anos.
Joana D`Arc dizia que lhe tinham aparecido anjos e santos que lhe transmitiram a ordem de expulsar de França os exércitos ingleses.
A Donzela de Orleães, como passou a ser conhecida, foi capturada em 1430 e julgada por heresia e bruxaria no ano seguinte.
O tribunal eclesiástico condenou-a à morte na fogueira.

Diário Digital / Lusa
04-04-2007 19:41:00

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