sexta-feira, junho 29, 2007

 
Videojogos fazem da mente do utilizador um mero computador

Os jogos de vídeo voltaram a ser tema de debate após a suspensão da difusão de «Manhunt 2», que devia ter distribuição mundial a 10 de Julho, e os seus efeitos continuam a suscitar preocupações.

«Já há algum tempo que várias pessoas ligadas à pedopsiquiatria alertam para o facto de muitos desses jogos, ao invés de darem elasticidade mental a quem os joga, se limitarem a dinamizar conteúdos violentos a uma velocidade que também por si é agressiva», alertou a pedopsiquiatra Ana Vasconcelos.

Ana Vasconcelos reagia, a pedido da agência Lusa, a uma decisão tomada quarta-feira, dia 27, pela Associação de Médicos Americanos (AMA), que exigiu uma investigação mais exaustiva aos efeitos positivos e negativos, a longo prazo, do uso de jogos de vídeo.

A AMA, que tem vindo a ocupar-se da temática, vai enviar as suas recomendações e os resultados de investigações que elaborou à Associação Americana de Psiquiatria e a outras sociedades médicas, para que estas as tenham em conta na próxima revisão do Manual de Diagnósticos e Estatísticas de Desordens Mentais.

Na opinião da pedopsiquiatra portuguesa, «no geral, esses jogos enriquecem a parte perceptiva mas não a parte simbólica individual, ou seja, em nada ajudam as crianças e jovens a reflectir melhor, até porque terem a cabeça cheia de imagens inúteis funciona como ruído, causando perturbação e dificultando o pensamento».

«E é evidente que estamos perante a geração do chamado pensamento visual, que é parcialmente responsável pelo insucesso dos miúdos em áreas como a matemática ou a língua portuguesa», assinalou.

De acordo com a pedopsiquiatra, «há crianças que expelem as suas tensões emocionais através do corpo e, em determinadas situações, ocorrem-lhes flashes violentos desses jogos, o que pode causar uma confusão de valores, baralhando o bem e o mal e deixando a criança sem saber como agir adequadamente perante os outros».

«Infelizmente, muitos desses jogos fazem da mente do utilizador um mero computador, sem sentimentos e sem consciência moral», criticou Ana Vasconcelos, exemplificando que «a criança vê rolar uma cabeça e não se interroga sobre o que sente alguém ao ser decapitado e esta falta de compaixão pode depois reflectir-se na vivência da criança com os outros».

Nos Estados Unidos, onde 70 a 90 por cento dos jovens são utilizadores assíduos das consolas, a AMA anunciou que pediu a revisão do sistema de qualificação em vigor para os vídeojogos, que data de 1994, para que os pais saibam a que conteúdos é que os seus filhos vão ser expostos.

Neste aspecto, Ana Vasconcelos conclui que «os pais podem não conhecer todas as imagens que os jogos contêm, uma vez que não os jogam, mas basta-lhes ter um pouco de bom senso para concluir que uma grande parte deles não fazem sentido nenhum e que as crianças não têm qualquer vantagem em ser-lhes expostas».

Diário Digital / Lusa

29-06-2007 9:00:00


Comments: Enviar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?