domingo, julho 22, 2007

 
Não aprendem nada…
Dom Vasco Teles da Gama *

É frequente dizer-se que a História se repete, o que equivale a dizer que a humanidade nada aprende com os erros dos seus antecessores ou, transpondo cá para o burgo e como dizia há anos o Dr. Soares, por sinal o mais notável político desta triste república, os portugueses têm a memória curta.

Vem isto a propósito dos episódios com que esta terceira república nos tem brindado recentemente, começando pela intriga montada na Câmara de Lisboa para provocar eleições antecipadas, orgia em que todos os partidos políticos envolvidos na autarquia tiveram responsabilidades.

Mas desde a delação política exercida por zelosos funcionários públicos regionais, ao escândalo das «Juntas médicas» que aprovam para o trabalho funcionários com doenças incapacitantes com o único e desumano propósito de poupar a Segurança Social, falida que está pelas anteriores políticas de reformas antecipadas, que a utilizaram como escape para resolver situações criadas nas empresas pela deriva demagógica e irresponsável pós-abrilina, bem como, em plena crise demográfica, pela inteligente política de liberalização do aborto, em nome de uma alegada liberdade da mulher. A decisão inadiável e inabalável acerca da construção do aeroporto na Ota e posterior recuo, adiando a decisão por seis meses, com o claro propósito de evitar engulhos à tomada triunfal da Câmara por um ex-membro do mesmo governo, revelando o pior do caciquismo eleitoral, tudo contribui para desacreditar o Estado, fragilizando-o, pelo que se devem esperar os resultados do costume.

Há cerca de cem anos, ante idêntica desagregação, o Rei D. Carlos, pressionado pelo grupo dos «Vencidos da vida» e outras personalidades marcantes do tempo, dissolveu o Parlamento e nomeou Governo de responsabilidade pessoal, para atalhar o descrédito em que caíra a classe política. Embora a liberdade de imprensa fosse maior do que alguma vez a história da república nos tenha consentido, pagou com a vida essa afronta à impunidade dos partidos e das sociedades secretas. Seguiu-se a acalmação, depôs a república com o seu cortejo de «bacalhau a pataco», perseguição religiosa, limites à liberdade de imprensa, caos financeiro, instabilidade política, anarquia nas ruas e finalmente, a ditadura militar e o estado novo.

Terão os nossos políticos actuais aprendido alguma coisa com isto? E nós, os eleitores, tratados por eles como saloios pagantes?

* Nota: o texto publicado é da exclusiva responsabilidade do autor.

18-07-2007 20:39:26


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