segunda-feira, julho 09, 2007

 
Santiago do Cacém recupera caminhos de Santiago Compostela

A exposição «No caminho das estrelas» que o Presidente da República, Cavaco Silva, inaugura quarta-feira na Igreja Matriz de Santiago do Cacém resgata a tradição dos caminhos de Santiago a Sul do Tejo.

Apesar de serem mais divulgados e conhecidos os caminhos a Norte do Rio Tejo, peregrinos vindos do Algarve, Baixo Alentejo, Extremadura espanhola e Andaluzia percorriam os «caminhos meridionais até chegarem a Santarém, ponto aglutinador de todos os caminhos, seguindo a partir daí uma rota comum», explicou à Lusa José António Falcão, comissário da exposição.

«Além destes - assinalou - muitos outros peregrinos vindos de partes distantes desembarcavam nos portos de Sevilha, Cádis e Huelva e depois seguiam de mula, cavalo, burro ou a pé até Santiago de Compostela, atravessando o Alentejo, região com menos obstáculos geográficos do que a meseta ibérica, e por ser mais seguro».

«O caminho português não começaria em Lisboa, mas sim mais a Sul, nomeadamente ligando o 'Promotorum Sacrum' [Promontório de Sagres], local de romagens antes da era cristã, e Santiago de Compostela», explicou.

A tradição foi retomada «há uns anos quando voltaram a ser pedidos os selos compostelanos, o que obrigou a uma intervenção da diocese de Beja, pois os párocos já nem tinham memória destes selos, que certificam o estatuto de peregrino», disse José António Falcão.

A exposição, que estará patente na Igreja Matriz de Santiago do Cacém até 30 de Outubro, apresenta cerca de 120 peças, do século XIV ao século XXI, algumas nunca antes saídas de território galego, indicou o comissário da exposição José António Falcão, do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja.

Segundo o responsável, a exposição pretende «mostrar a riqueza da simbologia e da iconografia à volta do culto de Santiago».

Entre as peças expostas na Igreja Matriz a mais antiga é um alto-relevo representando Santiago mata-mouros, provavelmente de autoria de Telo Garcia, que pertenceu a D. Vetaça e hoje encontra-se naquela igreja.

O alto-relevo é, segundo Falcão, «a principal obra do gótico português, à excepção da arte tumular».

A mais recente, «representando o peregrino», é uma escultura em betão e renda da autoria de Joana Vasconcelos e foi encomendada pela Diocese de Beja.

A Princesa Vetaça Lezcaris foi aia da Rainha Santa Isabel e trouxe para a região várias relíquias, nomeadamente um pedaço da Cruz onde Jesus Cristo foi crucificado.

«Este Santo Lenho escapou aos sucessivos assaltos de que a Igreja Matriz foi alvo na década de 1990 e ainda hoje é conservado na sua colegiada», disse José António Falcão.

Das obras expostas, Falcão destacou ainda o conjunto escultórico em prata da escola de ourivesaria portuguesa, cedido pelo Museu da Catedral de Santiago de Compostela.

A peça de 1677 foi uma oferta da Duquesa de Aveiro, Ana Manrique de Lara, donatária de Santiago do Cacém.

Na mostra, orçada em 400.000 euros, serão expostas peças vindas da Bolívia, Peru e México, uma das quais representando «Santiago mata espanhóis».

Esta peça, explicou Falcão, demonstra «a expansão do culto de Santiago a Oriente e a Ocidente».

Paralelamente à exposição, organizada pela diocese de Beja, o município de Santiago do Cacém, a Xunta da Galicia e a Xacobeo S. A., estão previstas várias actividades, como conferências e concertos.

O presidente da câmara de Santiago do Cacém, Vítor Proença, espera que entre 50.000 e 70.000 pessoas visitem a exposição, estando previstas acções promocionais em Madrid e Andaluzia.

Diário Digital / Lusa

09-07-2007 14:27:00


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