sábado, agosto 25, 2007
António Martinez segura o báculo da estátua de D. João Peculiar e sorri enquanto Patrícia, a namorada que veio com ele de Santiago de Compostela até Braga, tira uma fotografia que promete ser motivo de «grandes» gargalhadas entre os amigos.
«O que mais me custa é ver os turistas agarrados à estátua a rir e fazer graçolas», disse à Lusa António Peixoto Santos, presidente da Junta de Freguesia da Cividade, uma localidade no centro da cidade de Braga.
Foi o autarca o primeiro a alertar para a «falta de dignidade» da estátua, colocada há cerca de quatro anos, no Largo de S. Paulo, o principal espaço público da freguesia.
«É uma estátua muito pequenina para o pedestal em que está colocada e com um báculo enorme que é motivo de gozo para toda a gente», disse ainda o presidente da junta.
O báculo (ou bastão) que D. João Peculiar, o arcebispo de Braga que coroou D. Afonso Henriques como primeiro rei de Portugal, segura numa das mãos está no centro de toda a discórdia.
Símbolo característico dos bispos, o báculo da estátua lembra o órgão sexual masculino no entender de António Santos e não escapa ao humor nem dos bracarenses nem dos turistas.
«Incomoda-me ser autarca de uma freguesia que é conhecida pelas anedotas e graças que se contam sobre a estátua», frisou António Santos.
Há um mês o «incómodo» da estátua foi tema de uma reunião entre Mesquita Machado, o presidente da câmara de Braga, e o autarca da Cividade.
No início de Setembro será agendada uma reunião entre o executivo local e o arcebispo primaz de Braga para discutir a retirada da polémica estátua.
Com D. Jorge Ortiga de férias é D. Antónino Dias, bispo auxiliar de Braga, que assume a diocese.
«Todos entendemos a questão da estátua e do báculo», disse o prelado à Lusa.
«É de uma enorme deselegância e não respeita o enquadramento arquitectónico do largo onde está colocada. É uma escultura infeliz», disse ainda o bispo auxiliar.
Com a autarquia e a Igreja de acordo com a «inestética» da estátua, falta saber a quem pertence a obra de arte.
Na reunião entre o presidente da Junta e Mesquita Machado, o autarca socialista terá dito a António Santos que a estátua só poderia ser removida do Largo de S. Paulo depois da autorização dada pelos responsáveis pela diocese bracarense.
Uma responsabilidade que o bispo auxiliar não aceita. «A câmara é que encomendou a escultura e que a pagou. A diocese nunca foi ouvida», disse D. Antonino Dias.
«A câmara é que sabe o que deve fazer à estátua e ao báculo», finaliza o prelado.
Mesquita Machado admitiu não saber quem é o dono da escultura que representa D. João Peculiar. À Lusa disse mesmo não ter tempo a perder «com essas coisas».
Alguém que poderia dizer a quem pertence a estátua é o autor, mas também este é difícil de identificar, já que nenhum dos intervenientes conseguiu dizer quem é o escultor.
Junto à estátua também existia uma placa com informações sobre a obra e o nome do artista, mas as letras em bronze foram arrancadas, pelo que neste momento a estátua não está assinada.
Diário Digital / Lusa
25-08-2007 10:30:00